Dr Richard Bedlack MD, PhD é Professor de Neurologia na Univervisidade de Duke, na Carolina do Norte e Diretor da Duke Clinica de ELA. Seu primeiro contato com a doença foi em 1997 quando era residente e presenciou um paciente com essa condição, lhe falaram que pacientes com ELA sempre passam por uma rápida evolução e possuem baixas chances de sobreviver. Foi daí que surgiu a motivação para construir um programa voltado a esses pacientes com o objetivo de lhes proporcionar uma vida melhor e mais longa. Isso só seria possível através de pesquisas.
No primeiro momento, Dr Bedlack aprendeu sobre as formas de mensurar a progressão da doença, através de 12 parâmetros relacionados a coordenação motora, como por exemplo: escrita, alimentação e vestimenta. Este método se chama ALS Functional Rating Score e funciona através de um questionário com 12 perguntas que devem ser respondidas com notas de 0 a 4. Normalmente, a progressão da doença pode ser observada de forma linear através do resultado deste método, as notas costumam cair 1 ponto por mês.
A
média de sobrevivência dos pacientes sem traqueostomia costuma ser de 3 anos a
partir do início dos sintomas, porém existe grande variação entre os pacientes:
20%
vivem mais que 5 anos
10%
vivem mais que 10 anos
5%
vivem mais que 20 anos
Também
existe uma especificidade da doença que ainda não foi compreendida de forma
integral por médicos e pacientes, trata-se dos platôs aleatórios, isto é, períodos
aleatórios em que a doença não evolui. A evolução da doença nem sempre se dá de
forma linear, podendo até mesmo haver melhoras por um certo período. Isso foi
comprovado através do livro que conta a história de Lou Gehrig, famoso jogador
americano de beisebol. O livro analisa a
performance do jogador em seu último ano de carreira em 1938. Através de duas
métricas de performance, percebemos que durante um mês de seu último ano, sua
performance foi mais alta que a média de toda a sua carreira. Essa especificidade
da ELA é um fator que dificulta bastante a análise de resultados de um
determinado tratamento.
Até 2011, o Dr Bedlack não
acreditava que fosse possível haver reversão da doença.
O primeiro caso conhecido de reversão aconteceu com Nelda Buss. O Dr Bedlack a
conheceu através de um programa que ele promovia, onde pacientes o enviavam
dúvidas sobre informações encontradas na internet, como teses de tratamento. O
Dr as lia e escrevia um relatório a respeito baseado em seu conhecimento
técnico. Nelda surgiu através de uma investigação de um suposto tratamento
chamado de "cura energética", no site de um homem chamado Dean Kraft,
o "curandeiro da energia".
No
site havia um vídeo da própria Nelda relatando que foi diagnosticada com ELA
aos 43 anos e com uma rápida progressão em 6 meses de doença já não conseguia
andar e nem cuidar de si mesma sozinha. Com 1 ano de doença estava totalmente
paralisada e com grande dificuldade de respirar. Nesse ponto ela já estava
desenganada pela clínica onde se consultava, pois não havia mais nada a ser
feito. Ela diz no vídeo que neste cenário decidiu tentar uma última cartada e
visitar o curandeiro da energia. Nos 2 anos seguintes ela documentou toda a sua
evolução até retomar a vida normal, quando voltou a trabalhar numa fazenda,
subir escada e empilhar lenha por mais de 30 anos.
Obviamente
o Dr achou o vídeo incrível, porem ficou desconfiado visto que na internet
temos acesso a diversas informações falsas. Então ele decidiu encontrar Nelda.
Após encontra-la, ela enviou uma grande quantidade de arquivos médicos com
exames neurológicos mostrando a evolução da doença, perda da função motora e
sinais neurais e outros testes que tentavam descobrir demais razes pelo
acontecimento. Além disso, os arquivos médicos possuiam credibilidade pois
tinham sido realizados por equipes médicas da Virgnia que o Dr conhecia e tinha
respeito. Portanto, o Dr não duvidou de que de fato ela teve ELA e que melhorou
de acordo com o seu relato no vídeo.
A
partir disso, o Dr Bedlack decidiu traçar uma linha de estudo mais aprofundada
a respeito do caso. Apesar disso, o Dr pensava que os modelos de estudo da ELA
disponíveis não eram os melhores possíveis. Os modelos com animais são
realizados inserindo anormalidades genéticas em ratos e peixes, por exemplo. De
fato, esses animais apresentam sinais da doença similares ao que uma pessoa
teria, porém a causa da "doença induzida" não é a mesma que a maioria
das pessoas tem, isto é, a maioria das pessoas não tem uma anormalidade
genética. Nos modelos realizados com animais, chegou-se a encontrar alguns
medicamentos que retardaram de forma relevante a progressão da doença nos animais,
mas que não funcionou em humanos.
Com
o passar do tempo, novos modelos que o Dr acredita que sejam mais eficazes
estão surgindo. Um exemplo de modelo que o Dr enxerga como promissor é o de
células tronco com potencial induzido, onde literalmente raspam a pele de uma
pessoa com ELA e transformam essas células da pele em células-tronco. Então, em
laboratório, essas células-tronco podem ser transformadas no tipo de célula que
eles quiserem, como por exemplo neurônios motores.
Existe
uma teoria que o Dr Bedlack acredita e que de certa forma pode servir de
parâmetro para o desenvolvimento eficaz de uma droga para a reversão da ELA.
Trata-se da teoria dos controladores de
elite de HIV (cerca de 1% do total). Nos anos 80 algumas pessoas foram
infectadas pelo vírus, mas nunca ficaram doentes, sem tomar nenhum medicamento.
Anos depois, os genes dessas pessoas foram estudados e identificou-se uma mutação
em comum chamada de variação delta 32, que basicamente impedia o HIV de entrar
nas células e deixar a pessoa doente. A Pfizer aproveitou a situação e
desenvolveu uma droga que agiria da mesma forma. Essa droga foi de fato lançada
e tem alta eficácia.
O Dr Bedlack definiu alguns parâmetros para enquadrar uma situação como reversão:
Comprovar
o diagnóstico da ELA através de exames e laudos
Ter
apresentado progressão da fraqueza para a deficiência
Relevante
recuperação da perda da função motora e pelo menos uma das deficiências a
seguir revertidas, como por exemplo:
Costumava
ser dependente de ventilador mecânico e agora está respirando por conta própria
Costumava
se alimentar por tubo e agora engole normalmente
Costumava
ter dificuldade na fala e agora se comunica normalmente
Costumava
utilizar cadeira de rodas e agora consegue andar normalmente
Entre a comunidade médica e estudiosos,
existem 3 teorias principais para os casos de reversão da ELA:
1 - A mais aceita é a de que essas
pessoas na verdade nunca tiveram ELA, mas sim alguma doença com sintomas muito
similares, que ainda não foi catalogada.
2- Existe algo diferente com essas
pessoas, algo parecido com o grupo de "controladores de elite de
HIV", isto é, pessoas que de alguma forma carregam uma especificidade
genética que as permite lutar contra a doença e se recuperar.
3 - A terceira alternativa é de que
algum tratamento entre os vários que essas pessoas realizaram de fato funcionou,
mas não sendo possível descobrir exatamente qual.
Por que o Dr acredita que não sejam casos mimic?
(Mimic são casos em que a pessoa tem algo muito parecido com ELA, ainda
não catalogado ou de difícil diagnostico):
1. A
maioria dos pacientes recuperados possuíam todos os sintomas clássicos e
comprovações do diagnóstico através de exames neurológicos.
2. 4
têm histórico de ELA familiar (% equivalente ao que se vê em outras bases de
dados)
3 O
fato de os pacientes terem se recuperado de maneira semelhante a pessoas que
tiveram poliomielite, através de um processo chamado brotamento colateral (será
explicado a seguir).
As
bases cilíndricas representam o musculo, e em uma pessoa saudável esse musculo
é inervado por 4 neurônios motores. Quando uma pessoa fica doente (poliomielite),
algum desses neurônios é eliminado. Com ele morto, parte desse musculo não tem
nenhuma conexão com o sistema nervoso e portanto ficará fraco. No caso de uma
pessoa que sobrevive ao vírus da poliomielite, a recuperação não acontece a
partir da criação de um novo neurônio motor (isso é impossível). O que ocorre é
que os neurônios restantes ao redor do neurônio morto, se conectam ao outras
partes dos músculos, reconectando o sistema nervoso. O Dr comprovou isso traves
de exame de eletroneuromiografia.
Perfil
dos pacientes recuperados:
39 das 48 eram homens
As pessoas recuperadas tinham uma evolução mais acelerada que a média geral dos pacientes
antes de iniciar o tratamento.
Algumas pessoas do grupo concordaram em doar seus corpos para estudo quando vierem a óbito
O
Dr está se aprofundando na análise do DNA dos pacientes q tiveram reversão, com
a ajuda de parceiros como a Universidade de Miami, que fará o estudo de
sequenciamento genético para posteriormente ser comparado a outros pacientes de
ELA.
O Dr acredita que a teoria que tem
maior potencial é a que se relaciona ao fato ocorrido com os controladores de
elite de HIV. Com o conhecimento que se tem hoje a
respeito de genes, poderia se descobrir rapidamente como ele age e criar uma
droga que faça o mesmo.
Conclusões
As
reversões de ELA são raras, porém obviamente muito valiosas, pois podem
fornecer informações, como por exemplo, algum tipo de mecanismo endógeno que
torna as pessoas resistentes a doença ou algum tratamento específico que gerou
resultado.
O
Dr diz que está a espera de financiamento para testar suas hipóteses e se
aprofundar nos casos de reversão.
O Dr deixa claro que
ainda não se sabe a razão pela qual as 48 pessoas tiveram a reversão. O
tratamento que elas estavam fazendo está associado a melhora, porém não foi
possível comprovar que este foi o fator determinante.
Onde
conseguir mais infos (inclusive os protocolos de tratamento usados):
- www.dukealsclinic.com
- www.alsreversals.com