Stefano Borgonovo sendo cumprimentado por Ronaldo Gaucho |
São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008
Pesquisa no país mostra que incidência de Esclerose Lateral Amiotrófica é maior entre ex-jogadores
Enfermidade, ainda sem cura e causa conhecidas, provoca fraqueza e atrofia muscular e já tem mobilizado astros e clubes para ajudar as vítimas
GINA DE AZEVEDO MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ROMA
Esclerose Lateral Amiotrófica, três palavras para definir uma doença fatal que ameaça os profissionais que jogaram ou jogam futebol na Itália.
Investigação coordenada pelo magistrado Raffaele Guariniello revelou que futebolistas italianos têm risco 30 vezes maior de desenvolver a doença do que a média dos europeus.
O retrato dessa sentença foi visto recentemente na TV. Stefano Borgonovo, 44, ex-atacante da seleção italiana e do Milan, decidiu ser porta-voz dos doentes que convivem com a ELA. A entrevista impressionou. Com dificuldade de falar e inerte, mas lúcido, pediu fundos para combater a doença.
O impacto das imagens do ex-atleta fez lembrar outros jogadores vítimas da ELA, como Signorini, capitão e ídolo do Genoa nos anos 90, e Lombardi, jogador do Avellino. Com eles, emergiram dados pouco conhecidos publicamente.
Segundo as estatísticas, na Europa, dois em cada 100 mil habitantes desenvolvem ELA. Na Itália, a pesquisa de Guariniello, com ajuda de médicos especialistas, abordou 24 mil ex-jogadores profissionais das três divisões de futebol local de 1960 até 2006 e descobriu que cerca de 50 tinham a doença -a maioria cumpriu a carreira a partir do início dos anos 80.
Essa síndrome provoca atrofia muscular progressiva. O paciente normalmente permanece lúcido. Hoje, não há cura nem causa conhecidas.
O físico Stephen Hawking, 66, é um dos mais conhecidos portadores de ELA.
Após o depoimento de Borgonovo, jogadores já se mobilizaram: Massimo Mauro e Gianluca Vialli criaram uma associação para ajudar as famílias das vítimas. Fabio Cannavaro, capitão da seleção italiana, propõe que parte da renda dos jogos do time vá para pesquisas médicas. Fiorentina e Milan arrecadarão fundos com o amistoso que será realizado em 8 de outubro, em Florença.
A Justiça italiana agora indaga por que o mal atinge tanto os futebolistas. "Não acho que seja um fenômeno italiano. Só tivemos acesso aos arquivos médicos nacionais, por isso nos limitamos à Itália. Gostaria de saber se, por exemplo, no Brasil a incidência da ELA no futebol é alta", disse Guariniello à Folha.
Outra pesquisa, do professor Adriano Chiò, do Departamento de Neurociência da Universidade de Turim, examinou dados de 7.325 futebolistas profissionais de 18 a 69 anos, entre 1970 e 2006. Foram achados oito casos, seis vezes mais do que a hipótese inicial de 1,24. A idade média do surgimento da ELA era de 43 anos. "Idade mais baixa do que aquela na qual a doença se manifesta, que em geral é 65 anos", disse Chiò.
Para verificar se existe relação da ELA com as atividades esportivas, foram examinados ciclistas profissionais italianos entre 1945 e 2001 e jogadores de basquete entre 1980 e 2003. Não houve nenhum caso.
Confiando que a incidência entre futebolistas não é casualidade, os especialistas intensificam as pesquisas.
"As hipóteses principais são doping, remédios, suplementos alimentares, pequenos traumas nos membros inferiores ou na cabeça e uso de fertilizantes na grama", disse Guariniello, que quer ir além das causas das doenças. "É preciso apurar as responsabilidades. Por isso, é justo falar de homicídio culposo e, quando as causas forem provadas, indicar os autores dos crimes."
Nota do Blog: Stefano Borgonovo faleceu em 27/06/2013 aos 49 anos, vítima da ELA.
Investigação coordenada pelo magistrado Raffaele Guariniello revelou que futebolistas italianos têm risco 30 vezes maior de desenvolver a doença do que a média dos europeus.
O retrato dessa sentença foi visto recentemente na TV. Stefano Borgonovo, 44, ex-atacante da seleção italiana e do Milan, decidiu ser porta-voz dos doentes que convivem com a ELA. A entrevista impressionou. Com dificuldade de falar e inerte, mas lúcido, pediu fundos para combater a doença.
O impacto das imagens do ex-atleta fez lembrar outros jogadores vítimas da ELA, como Signorini, capitão e ídolo do Genoa nos anos 90, e Lombardi, jogador do Avellino. Com eles, emergiram dados pouco conhecidos publicamente.
Segundo as estatísticas, na Europa, dois em cada 100 mil habitantes desenvolvem ELA. Na Itália, a pesquisa de Guariniello, com ajuda de médicos especialistas, abordou 24 mil ex-jogadores profissionais das três divisões de futebol local de 1960 até 2006 e descobriu que cerca de 50 tinham a doença -a maioria cumpriu a carreira a partir do início dos anos 80.
Essa síndrome provoca atrofia muscular progressiva. O paciente normalmente permanece lúcido. Hoje, não há cura nem causa conhecidas.
O físico Stephen Hawking, 66, é um dos mais conhecidos portadores de ELA.
Após o depoimento de Borgonovo, jogadores já se mobilizaram: Massimo Mauro e Gianluca Vialli criaram uma associação para ajudar as famílias das vítimas. Fabio Cannavaro, capitão da seleção italiana, propõe que parte da renda dos jogos do time vá para pesquisas médicas. Fiorentina e Milan arrecadarão fundos com o amistoso que será realizado em 8 de outubro, em Florença.
A Justiça italiana agora indaga por que o mal atinge tanto os futebolistas. "Não acho que seja um fenômeno italiano. Só tivemos acesso aos arquivos médicos nacionais, por isso nos limitamos à Itália. Gostaria de saber se, por exemplo, no Brasil a incidência da ELA no futebol é alta", disse Guariniello à Folha.
Outra pesquisa, do professor Adriano Chiò, do Departamento de Neurociência da Universidade de Turim, examinou dados de 7.325 futebolistas profissionais de 18 a 69 anos, entre 1970 e 2006. Foram achados oito casos, seis vezes mais do que a hipótese inicial de 1,24. A idade média do surgimento da ELA era de 43 anos. "Idade mais baixa do que aquela na qual a doença se manifesta, que em geral é 65 anos", disse Chiò.
Para verificar se existe relação da ELA com as atividades esportivas, foram examinados ciclistas profissionais italianos entre 1945 e 2001 e jogadores de basquete entre 1980 e 2003. Não houve nenhum caso.
Confiando que a incidência entre futebolistas não é casualidade, os especialistas intensificam as pesquisas.
"As hipóteses principais são doping, remédios, suplementos alimentares, pequenos traumas nos membros inferiores ou na cabeça e uso de fertilizantes na grama", disse Guariniello, que quer ir além das causas das doenças. "É preciso apurar as responsabilidades. Por isso, é justo falar de homicídio culposo e, quando as causas forem provadas, indicar os autores dos crimes."
Nota do Blog: Stefano Borgonovo faleceu em 27/06/2013 aos 49 anos, vítima da ELA.
Imagem meramente ilustrativa