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Em 2009 fui diagnosticado com uma doença do neurônio motor (DNM) Trata-se de uma doença neuromuscular, progressiva, degenerativa e sem cura. Mesmo assim insisto que vale a pena viver e lutar para que pesquisas, tratamentos paliativos, novos tratamentos cheguem ao Brasil no tempo + breve possível, alem do respeito no cumprimento dos nossos direitos. .

19 de mar. de 2020

Orientações para pacientes com Doenças Neuromusculares frente a Pandemia do Coronavírus




Dra. Alessandra Corrales
Fisioterapeuta Neuromuscular/Respiratória

Pacientes com ELA, Doença do neurônio motor (DNM),  Distrofias Musculares e outras doenças Neuromusculares são grupo de risco e precisamos evitar ao máximo que sejam infectadas pelo coronavírus.

Esses pacientes possuem como característica principal a fraqueza muscular progressiva. Não há um comprometimento do tecido pulmonar um problema respiratório, mas sim um problema ventilatório causado pela fraqueza da musculatura respiratória que ocorre com a evolução da doença. Os pacientes perdem progressivamente a capacidade pulmonar até a necessidade de uso de Ventilação mecânica não invasiva e, quando necessário, ventilação invasiva com traqueostomia.

Uma pessoa sem uma doença de base que contrai o coronavírus apresenta uma disfunção pulmonar grave com características únicas. O coronavirus por causar uma infecção pulmonar, pode levar a um quadro de broncopneumonia/ pneumonia grave com perda de capacidade pulmonar.

Os pacientes neuromusculares naturalmente já apresentam perda da capacidade pulmonar, se infectados tem um risco aumentado de complicações respiratórias graves, com risco de morte.

Os estudos que vem sendo publicado, demonstraram que pessoas infectadas com coronavírus em estado grave, apresentaram baixa resposta a ventilação mecânica não invasiva (VNI) utilizada a princípio. O que levou a consequente piora do quadro clínico e atraso no tratamento correto. Outra questão verificada, está relacionada a maior disseminação do vírus e contaminação dos profissionais pela proliferação do aerossol arraces da VNI.

Sendo assim a conduta que teve bom resultado nos países que passaram pelos casos graves foi, em caso de infecção por coronavirus grave, realizar intubação orotraqueal precoce do paciente.
Não temos informações ainda em nossa população como a doença evolui. Houve até o momento, apenas um caso registrado de morte de um paciente com doença do neurônio motor (DNM) no Reino Unido. Um homem de 45 anos, com diagnóstico de DNM desde de 2018. Único caso que tive conhecimento até agora.

Mas, diante do comportamento da doença na população de risco comparado aos comprometimentos característicos apresentados em pacientes com doenças Neuromusculares, tentamos prever como seria sua evolução. Informamos e reforçamos as orientações sem causar pânico, mas é importante que se tenha conhecimento da real gravidade de sua exposição ao vírus.

Outra grande questão que preocupa em relação aos nossos pacientes é, caso infectado com necessidade de intubação, como seria a possibilidade de extubação, tirar esse paciente do tubo passado o período da infecção? Antes mesmo da pandemia, um dos principais problemas que levam a iatrogenia e até a morte desses pacientes é o momento da extubação do paciente com doença neuromuscular devido a falta de conhecimento especializado de muitos profissionais no manejo de pacientes neuromusculares.

 Hoje, um paciente neuromuscular infectado, provavelmente teria uma extubação complicada em virtude das consequências da destruição pulmonar, as lesões causada pelo vírus no pulmão, que pode levar a uma perda de até 30 a 40% da capacidade pulmonar. Se somarmos a isso, a perda prévia da capacidade pulmonar em decorrência da evolução da doença de base, teremos um processo muito delicado de extubação.

Alguns dos poucos estudos que temos relatam que as causas de morte vão além da insuficiência respiratória, como por exemplo sepse, insuficiência cardíaca, hemorragia entre outros. E que as lesões, reversíveis ou não, não se limitam a danos respiratórios, levando a um comprometimento cardíaco, neurológico e muscular. O comprometimento neurológico ocorre devido a  presença do vírus no sistema nervoso central e periférico. Quanto ao comprometimento muscular, comprovado a lesão muscular pelo aumento dos níveis de CPK, não se sabe ao certo a causa, já que não houve lesão direta no músculo. Mas uma possibilidade seria a presença de citocinas pró-inflamatórias elevadas lesionando os músculos.

Essas novas informações nos preocupa ainda mais quanto a possíveis sequelas e pensando no período de recuperação desse paciente. Uma recuperação que pode ser demorada e parcial. Não há ainda estudos a longo prazo, principalmente em nossa população onde não temos casos ainda descritos.

Em doenças como a Esclerose múltipla e na Neuromielite Óptica doenças raras autoimunes, algumas medicações por serem imunossupressoras podem aumentar o risco/gravidade dos pacientes à infeções virais. Mas não se deve interromper o tratamento sem orientação medica. Oriento conversar com o médico. Ele poderá decidir se há possibilidade de espaçar as doses avaliando o quadro do paciente.

Portanto oriento os pacientes que, em caso de FALTA DE AR, aumento da frequência respiratória e/ou queda da Saturação de oxigênio (SatO2) entrar em contato com seu médico e Fisioterapeuta e ir imediatamente para o hospital munido do ALERTA MÉDICO que entregamos a eles, e esse alerta deverá ser apresentado assim que chegar ao hospital dizendo que tem doença neuromuscular (acompanhado sempre do seu BIPAP ou ventilador de suporte de vida, extensão, tomada,bateria, e AMBÚ)

Além das orientações básicas já amplamente divulgadas para prevenção, oriento:

1- Higienizar as mãos é primordial. Lavar com água e sabão antes e após qualquer atividade, contato e higienização com álcool 70% quando não for possível lavar.

2- Não interromper tratamento medicamentoso sem falar com seu médico.

3- Se não for possível ficar sem atendimento Fisioterapêutico e demais terapias, realizar atendimento domiciliar.

4- Redobrar o uso do aparelho de tosse - Cough Assist, para higienizar e manter o pulmão íntegro (A domicílio). Conduta que deve ser realizada em pacientes com tosse ineficaz, esteja em uso de Ventilação mecânica invasiva ou não invasiva deve redobrar o uso do aparelho de tosse. E o AMBÚ para quem não possui o aparelho de tosse.

5- Realizar normalmente e diariamente as manobras já recomendadas pelo fisioterapeuta para manutenção da capacidade pulmonar realizados com o AMBÚ, 3x por dia, a domicílio.

6- Pacientes em uso de Bipap (VNI) noturno ou intermitente podem aumentar o tempo de uso para preservar e descansar a musculatura.

7- Substituir temporariamente o uso de peça bucal (para aqueles que fazem uso) por outra interface devido a facilidade de contaminação.

8- Equipe de saúde, atender de jaleco, luvas e máscara facial (que deve ser usada durante todo o contato com o paciente).

9- não entrar de sapato ao domicílio. Higienizar.

10- Higienizar a cadeira de rodas, os aros da cadeira, cadeira motorizadas, barra de apoio, próteses e órteses, utensílios, com álcool 70%.

11- Reforçara higiene dos aparelhos utilizados (AMBÚ/bipap/Interfaces/filtros/copo/Cough Assist/circuitos).

12- Se manter bem Hidratado e nutrido.

13- Não sair a não ser realmente em casos de emergência.

14- Não receber visitas.

15- Solicitar aos familiares que moram junto que ao chegar em casa que tomem banho e coloquem a roupa para lavar, higienizar mãos antes de se aproximarem do paciente. Sem beijos, toques e abraços.

Dra. Alessandra Corrales
Fisioterapeuta Neuromuscular/Respiratória/Doenças Raras
Especializada em Neurologia – UNICAMP
Especializada em Doenças Neuromusculares - UNIFESP  
Fisioterapeuta e Pesquisadora do Ambulatório de ELA do Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares da UNIFESP
Diretora da ABrELA – Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica ELA
Membro da Associação Paulista de Distrofias Musculares APDM
Diretora Científica do Instituto Dr. Hemerson Casado – Doenças Raras
Consultora Científica do Instituto Vidas Raras
Fisioterapeuta Representante do Instituto Um Minuto pela Vida