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Em 2009 fui diagnosticado com uma doença do neurônio motor (DNM) Trata-se de uma doença neuromuscular, progressiva, degenerativa e sem cura. Mesmo assim insisto que vale a pena viver e lutar para que pesquisas, tratamentos paliativos, novos tratamentos cheguem ao Brasil no tempo + breve possível, alem do respeito no cumprimento dos nossos direitos. .

27 de jun. de 2012

A bomba da discórdia

Bomba Little Boy 

Por Antonio Jorge de Melo

Quando o piloto do Enola Gay apertou o botão que soltou a bomba Little Boy sobre Hiroshima, às 8h15 do dia 6 de agosto de 1945, o cogumelo de fogo que matou instantaneamente 69 mil pessoas liberou uma nova e tremenda forma de barbárie: o terrorismo. A cidade de Hiroxima desapareceu em baixo de uma nuvem em forma de cogumelo. As notícias sobre a cidade eram desencontradas, e ninguém sabia exatamente o que ocorrera. No dia 9 outra bomba atômica foi lançada sobre a cidade de Nagasaki. Os norte-americanos haviam treinado durante meses uma esquadrilha de B-29 para um ataque especial. Nos aviões, quase ninguém sabia o que transportava.
Até o final de 1945, 145 mil pessoas tinham morrido em Hiroshima e 75 mil em Nagasaki. Mais dezenas de milhares de pessoas sofreram ferimentos sérios. Mortes entre os sobreviventes continuaram nos próximos anos devido aos efeitos da radiação que também causou o nascimento de bebês com má formação
As vítimas eram civis, cidadãos comuns, já que nenhuma das duas cidades era alvo militar muito importante. O cenário histórico dessa tragédia que permanece até hoje na memória de milhares de japoneses era a guerra no Pacífico, entre Japão e Estados Unidos no contexto do término da Segunda Guerra Mundial.
As populações civis foram sempre as que mais sofreram em todas as guerras que o homem fez sobre a Terra. Porém, nunca antes tivera o homem a capacidade de destruir tantos em tão pouco tempo, de forma tão covarde. “Estava inaugurado o terror total, o vale-tudo, o despudor de matar inocentes em prol de uma causa qualquer, como se a morte de velhos, jovens, crianças, mulheres pudesse justificar o que quer que fosse.”
A história da descoberta de como liberar a energia nuclear, e sua aplicação para fazer bombas capazes de destruir, irradiar e queimar cidades inteiras, é a grande epopeia trágica do século XX. Para construir as primeiras armas, os Estados Unidos investiram mais de US$ 2 bilhões e construíram um complexo industrial, espalhado do Tennessee ao Novo México e ao Estado de Washington, que em 1945 era tão grande quanto a indústria de automóveis americana.
O papel dos bombardeios atômicos na rendição do Japão, assim como seus efeitos e justificações, foram submetidos a muito debate. Nos EUA, o ponto de vista que prevalece é que os bombardeios terminaram a guerra meses mais cedo do que haveria acontecido, salvando muitas vidas que seriam perdidas em ambos os lados se a invasão planejada do Japão tivesse ocorrido. No Japão, o público geral tende a crer que os bombardeios foram desnecessários, uma vez que a preparação para a rendição já estava em progresso em Tóquio.                                                                                   
Na concepção de muitos, se não da maioria dos cidadãos americanos, as bombas atômicas salvaram a vida de talvez 1 milhão de soldados americanos e a destruição de Hiroshima e Nagasaki é vista como um pequeno preço a ser pago por salvar tantas vidas e levar a guerra terrível ao final. Esta visão dá a impressão que o ataque nestas cidades com armas atômicas foi útil, rendeu frutos e é uma ocasião a ser celebrada.
Más a necessidade de se jogar as bombas para terminar a guerra tem sido amplamente discutido pelos historiadores. Muitos intelectuais, incluindo Lifton e Michell, mostram que o Japão estava com intenções de se render quando as bombas foram jogadas, que a estratégia militar americana havia calculado muito menos baixas de uma invasão do Japão e finalmente que havia outras maneiras de se terminar a guerra sem utilizar bombas atômicas nas duas cidades japonesas.  
Entre os críticos do uso das armas nucleares em Hiroshima e Nagasaki estão líderes militares americanos. Em uma entrevista após guerra o General Dwight Eisenhower, que mais tarde viria a ser presidente dos EUA, disse a um jornalista: “... os japoneses estavam prontos para se renderem e não era necessário atacá-los.”.
Porque estou aqui levantando essa questão? Eu explico. Estávamos todos em Brasília participando do evento alusivo ao Dia Mundial de Luta contra a ELA no último dia 21. Após as palestras, abriu-se oportunidade para perguntas e respostas. Alguem perguntou sobre a possibilidade da Anvisa autorizar o uso compassivo da Dexpramipexole, e a resposta do Presidente da Biogen, o Sr Francisco Piccolo caiu como uma “bomba” sobre o auditório, quando afirmou que a Biogen não iria autorizar o tal uso.
Podemos dizer que, assim como aconteceu em Hiroshima e Nagasaki , onde o uso da bomba atômica matou milhares de pessoas, a decisão da Biogen Mundial em não autorizar o uso compassivo da Dexpramipexole nos pacientes de ELA, numa escala bem menor, também pode estar fazendo os seus estragos.
Pensemos no número de pacientes de ELA que já morreram desde que os estudos FASE II com a Dexpramipexole foram concluídos. Não podemos afirmar com certeza, mas digamos que essas pessoas fossem beneficiadas com o uso da droga, será que elas não teriam uma chance de sobreviver? Essa é uma pergunta cuja resposta jamais saberemos, assim como até hoje não existem respostas que justifiquem o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki.
Mas, da mesma forma que alguns pensadores acham que aquelas mortes nas 2 cidades japonesas foram necessárias, pois salvaram muitas vidas que seriam perdidas em ambos os lados do conflito, da mesma forma a indústria farmacêutica e o FDA pensam, ao não permitir a utilização das drogas experimentais em pacientes com doenças graves e letais como a ELA, pois segundo a concepção deles, fazem isso em nome da preservação da vida, e os pacientes que morrem sem a chance de se valerem de um tratamento em fase de pesquisa são apenas e nada mais do que “um pequeno preço a ser pago”, talvez um mal menor e sem importância em um contexto meramente histórico, tal qual os habitantes de Hiroshima e Nagasaki daqueles dias de agosto de 1945.
 
Fonte:
 http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/hiroshima-e-nagasaki/hiroshima-e-nagasaki.php#ixzz1yrlN3ABa



http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/hiroshima-e-nagasaki/hiroshima-e-nagasaki.php