Por Tatiane D. Conzedey, PhD
As doenças neurodegenerativas são caracterizadas por morte neuronal,
insidiosa, progressiva e irreversível. Formam um grupo heterogêneo de
patologias determinadas por diferentes mecanismos. Um grande número de doenças
neurodegenerativas apresenta etiologia
genética, enquanto que outras ocorrem de forma esporádica independente de herança genética.
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) pode ser classificada em familiar
ou esporádica, e acomete indivíduos de meia idade, normalmente acima dos 50
anos. Suas manifestações clínicas incluem fraqueza progressiva, atrofia,
fasciculação, hiperreflexia, disartria, disfagia, e eventual paralisia da
função respiratória.
No momento não há cura ou
tratamento efetivo para que se detenha ou se reverta o processo degenerativo da
ELA. Para melhorar a qualidade de vida dos pacientes são realizados tratamentos
paliativos. Com os avanços recentes da genética molecular, genes responsáveis
por diversas formas clínicas desta doença estão sendo caracterizados.
No momento já existem mais de 20 genes associados a ELA. Este estudo
visa o diagnóstico comprobatório e diferencial da etiologia genética da ELA,
contribuindo dessa forma, para efetuar o aconselhamento genético mais preciso
dos pacientes, para que a ELA deixe de ser uma doença subnotificada, e também
fornecendo mais informações para auxiliar no entendimento da patogênese da ELA.
Para a realização deste estudo,
sangue de pacientes encaminhados ao Instituto
de Neurologia Deolindo Couto (INDC/UFRJ), foram coletados e encaminhado ao Laboratório de Genética Humana do
IOC/FIOCRUZ e para o Neuro Genetics
Lab, McGill University, Montreal, Canada (doutorado sanduíche) para a
realização do rastreamento de
5 genes (SOD1, TARDBP, FUS, VAPB e ANG) e genotipagem de 2 genes (C9ORF72 e
ATXN2) envolvidos na ELA.
Nossos achados revelaram 15 SNPs nos diferentes genes estudados (ANG,
FUS, SOD1, TDP-43 e VAPB). Pela primeira vez, foi descrito um paciente
brasileiro de ELA-FTD (Demência Frontotemporal) com a repetição expandida
C9ORF72. Após o rastreamento do gene VAPB
foram encontradas 6 famílias com a mutação P56S,
onde 5 possuem AME (Atrofia muscular
espinhal) de início tardio e
apenas uma possui ELA.
Nossos achados e de estudos anteriores nos levaram a concluir que a
mutação P56S no gene VAPB parece ser mais frequente em pacientes de AME de
início tardio do que em pacientes de ELA. Encontramos uma nova mutação no
gene TARDBP, em um paciente de ELA-E (ELA esporádica), e após realizarmos a
caracterização da mesma, vimos que ela leva a perda de função do gene através
de efeito hipomórfico.
Pela primeira vez, foi visto a
associação da repetição expandida CAG no gene ATXN2 e o risco de causar ELA em
pacientes brasileiros, bem como ocorrência, concomitante, de ATXN2 e da mutação
P56S no gene VAPB em pacientes de ELA e de AME de início tardio. Isso sugere
que o gene ATXN2 poderia ser fator de risco não apenas para a ELA, como para a
AME de início tardio.
Nosso estudo veio somar-se ao
conhecimento da ELA na população brasileira e de certa forma também para AME de
início tardio. E enfatiza a importância da associação da clínica com a genética
para um diagnóstico mais preciso.