A esq, minha mãe durante uma consulta no INDC |
Não tenho dúvida em afirmar que sou um daqueles filhos privilegiados, pelo fato de, aos 51 anos de idade ter o privilégio de ter ao meu lado o convívio de meu pai e de minha mãe.
Meu pai é um senhor magro de 82 anos com uma boa compleição muscular, apesar da idade. Talvez isso seja fruto dos seus longos e sofridos anos de trabalho, onde atuou como operário da construção civil, época em que fazia muitos esforços com o corpo, e necessitava fazer longas caminhadas devido as dificuldades de acessibilidade que ele passava, por morar em um lugar bastante ermo na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e trabalhar em lugares distantes da sua casa.
Hoje ele vive em uma agradável casa avarandada na cidade de Araruama, localizada em uma área rodeada de pés de laranja, tangerina, coqueiros, e a passarinhada cirandando em torno das árvores transformando aquele ambiente em algo muito especial, alegre e cheio de vida.
Atualmente meu pai está fazendo tratamento de uma doença chamada Mielodisplasia, cujo principal sintoma é uma anemia profunda, o que o torna dependente de um cuidador, devido ao tipo de alimentação que ele necessita, as medicações que ele faz uso, e o risco iminente de um mau súbito. E na maioria das vezes quem cumpre o papel de cuidadora dele é minha mãe, a Dnª Maria, uma mulher de temperamento forte e de decisões firmes mesmo aos 80 anos de idade, e que por acaso é portadora de ELA Familiar tipo8, cujos primeiros sintomas começaram a aparecer lá pelos idos de 1993, e até hoje só lhe comprometeuram a capacidade de andar, e a autonomia para exercer algumas poucas tarefas.
Ué... não deveria ser o contrário, ela na condição de uma paciente com ELA precisar de um cuidador? Sim, ele, aquele homem franzino de 82 anos que faz um tratamento importante de saúde é o cuidador dela também na maioria das vezes, e nesse momento com menos intensidade, devido a esse tratamento que ele está fazendo, quando ele inclusive necessita ficar 6 dias longe de casa uma vez ao mês.
A minha mãe, por sua vez sai do papel de paciente e encarna muito bem a sua condição de cuidadora, dando ao meu pai todo o suporte básico que ele necessita. É um verdadeiro milagre ver minha mãe, que é cadeirante, fazer tudo o que ela faz no seu dia a dia, e ainda assumir a sua condição de cuidadora do “velho”, que não se faz de rogado em aceitar e se deliciar com uma atenção, dedicação e carinho tão diferenciados dessa cuidadora.
Milagres existem. Eu conheço um chamado Maria.