Por Antonio Jorge de Melo
Conforme é do
conhecimento dos pacientes de ELA/DNM, familiares, profissionais da saúde e dos
diversos setores da sociedade que nos acompanham e apoiam a nossa causa, dia 21
de junho é o DIA INTERNACIONAL DE CONCIENTIZAÇÃO DA ELA, e no Brasil, por força
de lei desde o ano passado é também o DIA NACIONAL DE LUTA CONTRA A ELA.
Desde 2012, associações
de pacientes e profissionais da saúde participam do evento alusivo a essa data,
com o apoio de alguns parlamentares da Câmara e do Senado em Brasília. No
último dia 20/06 ocorreu a edição 2018 do evento, com o apoio da Câmara dos
Deputados, através da Comissão das Pessoas com Deficiência, presidida pela
Deputada Federal Mara Gabrilli. De todos os temas que foram ali abordados, quero
destacar o tema apresentado pelo MOVEA através do paciente de ELA Familiar,
médico, escritor e ativista Dr Cesar Xavier.
A finalidade da apresentação do tema não foi levantar questões religiosas ou de fórum íntimo dos pacientes e de seus
familiares, mas simplesmente dar visibilidade a essa importante agenda que o
MOVELA, o PROJETO ELA BRASIL, a empresa CHROMOSSOME e o Dep. Federal Alexandre
Serfiotis vem discutindo com o Ministério da saúde a partir de uma perspectiva meramente legal e de direito, que é inclusão do Diagnóstico Genético Pré-Implantacional na Portaria 426/2005/MS e sua
disponibilização no SUS. Tal procedimento já é realizado na medicina
privada, inclusive com a cobertura de alguns planos de saúde através da
judicialização. A verdade é que, para a maioria dos cidadãos brasileiros, a
possibilidade de acesso a esse tratamento só é possível através do SUS.
Em relação aos aspectos legais do
tratamento, ele segue estritamente as mesmas normas descritas na LEI DA
BIOSEGURANÇA, aprovada em instância final pelo STF em 2008 para permitir a realização
de pesquisas in vitro com células-tronco embrionárias, e tem o rígido controle
do CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM), através de Resoluções que são
atualizadas e publicadas regularmente.
Outro
ponto que merece ser citado é o fato da
ciência até hoje não poder dizer com certeza em que momento se inicia a
vida. Assim,
do ponto de vista científico existem várias possibilidades e nenhuma
certeza,
restando as religiões criar seus próprios dogmas e convicções em relação
a isso. Sendo o Estado laico, a letra fria da lei não tem
por finalidade defender qualquer religião ou dogma em particular, mas
ela
garante que as pessoas tenham o direito de professar a religião que bem
entender, contanto que que cada cidadão respeite a opção religiosa do
outro.
No evento foram levantadas questões religiosas por
um palestrante, que em tese poderiam ser impeditivas para a prática do Diagnóstico Genético Pré-Implantacional, o que me pareceu no mínimo um
grande equívoco de quem abordou essa temática, pelos motivos aqui já
mencionados. Assim, nós pacientes de ELA Familiar e de outras moléstias
genéticas raras e graves devemos nos unir e lutar pelo direito de termos acesso
a esse tratamento pelo SUS, pois isso significará muito mais que a extinção de
uma doença, significará o fim da dor, da angústia e do sofrimento das nossas
futuras gerações, e para o SUS, uma enorme economia de recursos públicos.
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